quarta-feira, 25 de março de 2015


Pedro De Vitto Clemente 41123656

A Pedra do Reino

Teatro Minimalista


  Em 2006 estudava teatro em São Paulo. Meu professor da época baseava seu método muito em função da experiência que teve com o diretor teatral Antunes Filho, e claro recomendava suas peças sempre que estavam em cartaz. Nesse período, a peça em cartaz era A Pedra do Reino, baseado no Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, ambos de Ariano Suassuna. O que me motivou a assistir o espetáculo foi uma curiosidade sobre o método do diretor em relação aos atores, mais do que uma curiosidade sobre sua abordagem, interpretação das obras e artifícios de linguagem.
  Ao chegar no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação a única concepção que tinha em mente sobre o que estava prestes a ver era sobre o talento de Antunes, todo o entorno que dizia respeito ao momento vivido pelo teatro em São Paulo, ou a importância da obra de Suassuna ser interpretada, nos palcos ou quais os atores estavam envolvidos, me passavam despercebidos. Graças provavelmente a esse "despreparo", assisti a um espetáculo marcante.
  De uma forma muito simples sem nenhum tipo de cenário durante todo o espetáculo, o diretor estabelecia uma atmosfera e espaço completos. Os figurinos somados a maneira como o ator andava ou manipulava os objetos, transparecia toda uma dramaturgia anterior ao espetáculo, que em poucos segundos esclarecia ao espectador o que se passava. Na cena inicial por exemplo, há uma banda de rua em terceiro plano que atravessa o palco, e a frente o protagonista "Quaderna" que segura uma grade de madeira como se fosse uma janela de um cárcere. Antes de ser dita qualquer palavra, já é possível interpretar que estamos espiando esse personagem pela janela de uma prisão em uma cidade pobre e remota na região agreste. O que impressiona, é o processo cognitivo automático que se dá no cérebro, que traduz pelos objetos, gestos e intonações isolados em um espaço vazio e escuro um universo complexo, e repleto de informações. 
  Outra cena marcante e muito cômica, é quando existe uma rixa entre famílias pelo poder, as quais representam cada uma um brasão diferente. A cena era feita apenas com cadeiras e os atores: Basicamente haviam umas cinco cadeiras de cada lado do palco viradas de costas para a platéia, cada família sentava em um lado do palco virados todos de frente para a platéia. A magia da cena se dava na dinâmica dos atores sobre essa estrutura: Enquanto sentados, os atores ficavam quicando sobre as cadeiras, como se estivessem a cavalo. Além das falas saírem totalmente soluçadas, era exposto o ridículo da competição pelo poder e o pedantismo da elite ganaciosa. Novamente, com artifícios extremamente simples, o diretor criou uma cena extremamente rica, e completa em seus elementos essenciais.
  Não necessariamente uma experiência estética parte de uma estrutura minimalista, no entanto pela minha perspectiva e do que percebi nesse espetáculo, parte de artifícios sensoriais que catalisam um processo cognitivo, e nos transporta para uma outra realidade possível. Por exemplo: Três arestas iguais dispostas perpendicularmente uma em relação a outra em suas pontas não formam um quadrado, mas essa estrutura sugere um quadrado, e catalisa no nosso cérebro a experiência do quadrado. 

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