Desde que saiu das cavernas, a
ambição do homem está em compreender o belo, o bom e o verdadeiro. A estética
tem a intenção de desvendar a fonte norteadora das belezas sensíveis. O que nos
faz admirar um quadro, o que nos toca frente a uma grandiosa paisagem natural,
ou domina nosso corpo ao som de uma boa música?
Simetria, composição,
ordenação, proposição, equilíbrio, são critérios pesquisados pelos filósofos,
desde a Grécia Antiga, para estudar a arte e dela extrair a teoria do belo. As
complexidades metafísicas da filosofia estão ao alcance de poucos, mas a
experiência estética está ao alcance de todos que se prestem a dar ouvidos à
sua própria sensibilidade. Vivenciei algo significativo nesse sentido na
primeira vez que estive num ensaio de orquestra.
Tinha meus nove ou dez anos,
fui levado pelo meu pai à orquestra sinfônica da Lapa, e não esperava nada
daquele inusitado passeio. Entramos numa sala pequena para tanta gente e
sentamos numas cadeiras à volta dos músicos. Já estavam todos lá, montando seus
instrumentos, afinando e organizando as estantes. O maestro ergueu a batuta e confesso
que não me empolgou os gestos displicentes e a má vontade de alguns deles. A
música já corria e um senhor ainda ajustava seu trompete. Mesmo para meus
ouvidos inexperientes parecia que os sons não se encontravam devidamente. Uns
dez minutos depois minha opinião já estava formada, quando vi um senhor alto e
bem vestido entrar na sala. Quem conduzia a batuta a apoiou na base e sentou-se
pegando um violino. Todos os músicos sentaram-se corretamente, um silêncio
tomou a sala.
Ele tomou a batuta, passou um
olhar firme de um lado ao outro da orquestra, como capturando os olhares dos
músicos. Posicionou a partitura, fez um longo sinal com a cabeça. Bateu três
vezes com a batuta na base de madeira. E ao movimentar seus braços uma musica
completamente harmônica explodiu na pequena sala! Cada som tinha seu tempo,
amplitude e lugar exato. O grave da tuba ecoava. A harmonia dos violinos, o
saltitante contrabaixo. Nunca tinha visto tão impactante experiência. Meu
coração bateu forte.
Hoje sei que o primeiro
violino havia tomado o lugar do maestro enquanto este se preparava em seu
gabinete. Mas o surpreendente contraste do que para mim teria sido a orquestra,
naquele pré-ensaio desajustado, seguido pelo entusiasmo dos músicos frente à autoridade
de seu maestro, foi a maior lição de estética que nem Aristóteles ou Kant
jamais poderiam explicar com suas tão importantes teorias do belo.
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